tag:blogger.com,1999:blog-310187242024-03-13T19:41:30.135+00:00das cinzas para a luz infinitaÉ certo que o homem fala a si mesmo; não há um único ser racional que não o tenha experimentado. Pode até dizer-se que o mistério do Verbo nunca é mais magnífico do que quando, no interior do homem, vai do pensamento à consciência, e volta da consciência ao pensamento.
in "Os Miseráveis" de Vítor Hugoelsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1156157621137416712006-08-21T11:51:00.000+01:002006-08-21T15:47:05.910+01:00Aos Amigos de Herberto HélderAmo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.<br />Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,<br />com os livros atrás a arder para toda a eternidade.<br />Não os chamo, e eles voltam-se profundamente<br />dentro do fogo.<br />- Temos um talento doloroso e obscuro.<br />construímos um lugar de silêncio.<br />De paixão.<br /><br />Herberto Hélder<br /><img src="http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/images/hel_1.jpg" ><br />para ler uma crítica completa à obra de Herberto Helder, elaborada por Maria Estela Guedes, no seu livro on-line:"Herberto Helder Poeta Obscuro" vá a <a href="http://www.triplov.com/poeta_obscuro/">Herberto Helder Poeta Obscuro</A><br /> .<br />Excerto desse mesmo livro:<br /><br />"Herberto Helder é dos poetas mais fascinantes que me foi dado ler, e aquele cujo poder encantatório mais me deslumbrou. Este livro representa o tributo que ao fim da estrada o viajante paga por a ter percorrido, sendo também o resultado de quatro anos de convivência assídua com a obra herbertiana.<br /><br /><br />De modo geral direi fazer-se aqui o levantamento de bastantes motivos, alguns suficientemente importantes para lhes chamar temas (o corpo, o poema, o espelho, a voz, a árvore, a crlança, a casa, a pedra, a mãe, a cabeça e muitos outros) , e daquilo que consideraria os temas centrais da obra (a vida, a morte, o erotismo, a poesia, o conhecimento, a visão mágica do mundo), razões que porventura determinam a actuação encantatória dos poemas na imaginação e sensibilidade do leitor. Tais levantamentos surgem tentacularmente dirigidos à generalidade da obra, no sentido de lhe apreender o funcionamento de base e o sentido mais fundo."elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1155423979089285682006-08-18T00:04:00.000+01:002006-08-17T22:47:43.400+01:00depressão<a href="http://www.sadness.gr/users/assets/chair.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.sadness.gr/users/assets/chair.jpg" border="0" alt="" /></a><br />às vezes <br />a chuva cai na calçada<br />e o coração está sentado <br />na soleira da porta.<br />um velho triste<br />chora dentro de casa<br />e tenta escrever estórias <br />nas palmas das mãos.<br />as janelas fecham as pálpebras <br />e o mundo lá fora<br />é algo que se espreita<br />muito, mas muito levemente.<br /><br />(a todos os que por uma passaram, estão a passar e áqueles que por uma vão passar a todos força e creiam em Deus que é a força que nos arranca das tristezas, com ele todos os problemas ,sim, porque eles nunca deixam de existir quer se creia em Deus, muito ou pouco, são encarados com um sorriso. E essa é a diferença máxima entre ter Deus perto de nós e não ter. Ele faz-nos sorrir. A mim faz, isso asseguro.)elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152709111528069692006-08-15T14:54:00.000+01:002006-08-15T18:10:24.980+01:00o poeta.o sonho.os amanteso poeta. o sonho.os amantes<br /><br />o poeta é o construtor ardiloso do sonho<br />artesão secular do seu cimento virgem imaculado.<br />as suas paredes crescem como línguas de tempestade<br />dentro dos ouvidos do pensamento.<br />as têmporas revivem as folhas e os frutos da primavera<br />quando entre estas,<br />estradas de esperança<br />desbravam memórias antigas:<br />lâminas cortantes de horizontes celestiais<br />separadoras de primitivos amantes:<br />o pensamento e o sonho.<br /><br />a vida. o poema. o sonho.<br /><br />uma borboleta carrega no dorso o sonho-um candelabro alado -<br />a lua já não reveste as faces vivas das antigas crianças virgens<br />crianças escondidas estupidamente dentro de corpos crescidos,<br />sujos de lama<br />deturpados pelo cinzel e os braços do mundo.<br />estranhas estátuas de calcário<br />roídas como maçãs pela erosão de um poema<br />situado no interior de um chão raso.<br />depois<br />____________uma trincha de cal na memória<br />e o sorriso de quem desbrava florestas virgens.<br />o mundo mais jovem.<br /><br />um barco. a tempestade. o sonho.<br /><br />o medo e o seus dentes de marfim surgidos da noite,<br />tempestade que abana o barco<br />onde descansa o Deus sereno do mundo<br />e os seus apóstolos dentro de um livro.<br />vai no barco o sonho<br />e o Deus com a língua acesa.<br />vai a suave asa de Deus sobre as cabeças amedrontadas<br />pela tempestade.<br />e Ele dorme descansado na proa<br />com todo o mundo no regaço<br />e as raízes do sonho plantadas entre os seus cabelos.<br /><br />o amor.a cidade.o sonho<br /><br />amor:o sal líquido das artérias do corpo-uma cidade-<br />combustível luminescente dos veículos que a percorrem.<br />e há na estrutura da pele desta cidade um tijolo-amor<br />despossesso de cartas ou juras dele próprio,<br />despossesso do estranho nervoso do sexo dentro das calças.<br />" ah e quando me pedes o meu ombro amor"<br />a cidade transforma-se em rio<br />para levar para longe as lágrimas<br />que te molham o teu rosto de areia à beira-mar.<br />sorrimos então um para o outro como dois candeeiros nas trevas<br />e avistamos o sonho sem memórias-lãmina ali tão perto.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1155589775276738552006-08-14T22:07:00.000+01:002006-08-14T22:09:35.276+01:00vidênciano vaso deste olho onde enraíza a aurora das coisas,<br />(das minhas coisas)<br />há uma semente de sol bem antes das pétalas abertas das manhãs <br />há também um espelho feérico<br />de onde os homens saem puros,<br />livres das anémonas envenenadas<br />que durante séculos fizeram das arcadas oculares<br />os seus lares de alterne.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1155232105108631852006-08-10T18:47:00.000+01:002006-08-12T15:10:34.713+01:00Do livro segundo da noite escura, de São João da Cruz 2A alma que Deus leva adiante é uma pulsação<br />Frágil. Uma sombra cá fora incandescente do cárcere<br />O discurso, mesmo o interior, é um mecanismo<br />Engolido pelo amoroso gole. Faltam<br />Os mensageiros duráveis – não é uma falha<br />Da noite intensamente tecida. Na malha negra vê-se<br />Como nos limites raia<br />A perfeição – uma agulha<br />Uma mancha fresca retesada entre a raiz absoluta e o mais alto<br />Apagamento. A porta<br />É um batente no princípio. Nem todos entram<br />Da mesma forma. Sim<br />Que sabemos das aparências?<br /><br />É necessário cobrir os olhos incuráveis – o manto<br />Abre-se à lixívia – uma estrela imensa. A união<br />É desposarmo-nos brancos<br />Sem palavras<br /><br />Quando eu era uma criança de muletas<br />Estudei o alicerce de coisas paradas<br />Observei as coisas que se moviam<br />No olhar estático das coisas que meditam. Era cirúrgico<br />Como o homem que opera nas pupilas as artérias do seu próprio coração.<br />Estudei um peregrino e outro e outro. Estavam parados<br />Contemplavam os passos percorridos<br />No perímetro da meditação.<br />Anotei que os alicerces do movimento são líquidos<br />Constantes.<br />Primeiro líquido: a água, nas coisas altas as nuvens<br />E penso também nos rios. Segundo líquido: a saliva<br />Que curou os cegos. Terceiro líquido: o ar porque me lembro<br />Do relâmpago, da velocidade das coisas que caem. O sétimo líquido:<br />O sangue do cordeiro.<br /><br />Quando eu era uma criança parada<br />Quando não andava numa cadeira de rodas a empurrar o corpo com as mãos<br />Estudei o movimento dos líquidos<br />Segui o derrame da semente ao morrer<br /><br />Caminhasse eu porém e seguiria<br />O fio de água no olhar de quem amei.<br /><br />Quando nadei profundamente na morte<br />Trouxe a mão ao cimo – era a superfície<br />O arbusto húmido a respirar fora das águas<br />A embarcação da infância<br />A neblina escavada ao redor da ilha desigual. Na vegetação<br /><br />Que rodeia o homem solitário. Entrei profundamente<br />Trouxe a mão à tona da morte – o reflexo<br />Do remo movido sobre a agulha da bússola<br />O peixe que espera sobre todas as águas<br /><br />Quando aquática a flor no tronco escavava<br />A minha última jangada nas correntes<br /><br />Sento-me entre os que cantam em círculos<br />E decoro a melodia improvisada<br />E embora cante ao longo do caminho<br />Fico sozinho ao chegar a casa<br /><br />Mesmo quando estou sentado em casa<br />Canto mas não sei onde vivo<br /><br />Sei as margens onde as crianças cortam os juncos<br />Sei que a música pode salvar um homem que se afoga sem nada<br />Taparei rio entanto os ouvidos para descer humanamente ao fundo<br /><br />Mesmo que aí a voz me seja o oxigénio necessário<br />Mergulharei voluntariamente na quietude ou na infância<br />De estar em silêncio<br /><br />Quero aprender nas águas uma energia para escutar<br />Um instrumento sonoro, fecundo. A nervura<br />Da onda dobrando-se numa e .noutra e noutra<br />Vinda<br />A concha acústica do búzio que ritma a embarcação Sanguínea.<br />A navegação de quem avista<br />Uma praça fora do mundo<br /><br />Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página<br />E aproveito o facto de teres chegado agora<br />Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.<br />A magnólia cresce na terra que pisas – podes pensar<br />Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita,<br />Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,<br />Que a magnólia – e essa é a verdade – cresce sempre<br />Apesar de nós.<br />Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema<br />Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado<br />A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,<br />Mesmo que a recuses<br />Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,<br />A colherei.<br /><br />A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra<br />E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão<br /><br />de Daniel Faria<br /><img height="300" src="http://www.danielfaria.org/images/df.jpg" width="300" /><br /><br />mais informações em <a href="http://www.danielfaria.org/">Daniel Faria</a>elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1155204854260887412006-08-10T10:32:00.000+01:002006-08-23T17:17:00.156+01:00as crianças<img height="300" src="http://www.trinity-reformed.org/jesus111.jpg" width="300" /><br /><span style="font-family:courier new;">na criança pode-se ainda as penas<br />num abraço e ver as asas nos olhos,<br />sobrevoando as montanhas do sonho<br />com a sua erva fresca.</span><br /><span style="font-family:courier new;">é-lhes muito fácil criarem raízes<br />de pássaros entre a <span style="color:#ff0000;">língua</span> e os dentes<br />e levar (como quem beija) a primavera </span><br /><span style="font-family:courier new;">aos ouvidos dos homens adultos.<br /><br />vem a mim a pequenez de nós,<br />o retrato fiel dos risos dos lírios brancos<br />vem a mim as palmas das mãos em concha<br />e lá dentro o silêncio de todas as portas fechadas<br /></span><span style="font-family:courier new;"><em>"Venham a mim as crianças,<br />pois delas serão o reino dos céus"<br /></em><br /></span>elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1155167222206268252006-08-10T00:36:00.000+01:002006-08-10T19:08:56.010+01:00a luz infinitaa luz remendou-me os ossos<br />em <span style="font-size:78%;">silêncio.</span>elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1154639826317575382006-08-03T22:15:00.000+01:002006-08-03T22:17:06.326+01:00a métrica da vidaas montanhas salivam <br />as últimas <br />gotas de sol<br />e depois do suor me vir lavar<br />fito as pegadas da minha cabeça<br />entre as várias cegonhas<br />que povoam o infinito azul<br />e penso:<br />como é longa a métrica do meu suspiro.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1154098461121389882006-07-28T15:43:00.000+01:002006-07-28T15:55:50.463+01:00just a simple thought 5as ruas passeiam pelas pessoas<br />e nos olhos as vitrines explicitas de um "amor" vagabundo<br />e empedernido:<br />sacos cheios de pequenas bolas de sabão<br />produzidas durante a tepidez de um sono perturbador.<br /><br />e ao outro dia <br />puff, puff, puff.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1153298724689544442006-07-19T09:44:00.000+01:002006-07-26T14:24:42.890+01:00a mulheras curvas descem-lhes pelos olhos<br />como rios perdidos na saudade do leito.<br />olhos ora brilhantes, ora sombreados<br />passeiam pelo próprio pé o horizonte<br />por eles vestido a cor-de-rosa.<br />num sopro: o vento ténue<br />que sobre o peito de um homem<br />dá formas ao seu deserto <br />e o coração move-se sobre duas andas,<br />repito:<br />sobre duas andas.<br />dois braços leves como plumas esvoaçantes e delicadas.<br />dois pássaros que nascem das suas raízes<br />no interior de um corpo <br />de uma mulher.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152711095706573352006-07-12T14:31:00.000+01:002006-07-24T14:10:10.726+01:00baladaComo as pedras que nascem das flores <br />assim como veias jugulares <br />que produzem um poema <br />que se ergue "da confusão da carne" <br />assim nasce o poeta-homem <br />artesão secular da palavra <br />pintada pelo tempo, <br />amassada como o barro ferrugento. <br />Mas os punhos que ele usa <br />são os punhos da vida, <br />que quando aprendiz, nos olha <br />como luas assarampatadas <br />nos berços dos nascituros <br />na idade da inocência. <br /><br />E quando cresce, a vida <br />transforma-se num outono eterno <br />e sábio, sentada em memórias de sangue, <br />mas também de lírios <br />e crianças ouvem à lareira <br />palavras castanhas, cinzentas e azuis, <br />ouvem com ouvidos de ouvir <br />as palavras-lâmina que rasgam qualquer <br />surdez da alma, qualquer nada interior.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152711052648919612006-07-12T14:30:00.000+01:002006-07-12T14:30:52.650+01:00memóriashá ruas que não se esquecem <br />são memórias antigas <br />línguas esplêndidas estendidas <br />a afagar a orla do pensamento,ensinamentos <br />velhos dos avós que recordo <br />com mítico prazer. <br />não me esqueço da salinidade <br />das águas, ou da intensa tangibilidade do céu <br />no pensamento, mas o sabor do outono <br />saindo dos cabelos brancos <br />é mais forte que o pão <br />e que o leite que fecunda o Mundo.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152711009748264252006-07-12T14:29:00.000+01:002006-07-12T14:30:09.750+01:00sem títuloCala-me os dedos num silêncio profundo <br />em que beijo o sangue <br />a bater contra as unhas, como ondas suaves <br />numa praia de areia vermelha. <br /><br />Nas pontas do corpo o sangue arde <br />com a vida, que não para de correr no corpo <br />e somos <br /><br />sós <br /><br />eu e a vida <br />assim como amantes <br />dançando a suave melodia <br />que sai da harpa acesa na boca de Deus.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710936899393912006-07-12T14:28:00.000+01:002006-07-12T14:28:56.906+01:00EpopeiaPouco ou nada há para dizer, a não ser que o silêncio-lãmina <br />corta a memória em mil bocados e espalha-a nas <br />ruas que acompanham a orla do pensamento permanente <br />de uma cadeira que é o meu corpo.Tudo é tão simples <br />para um assassino de mortos. Na alvorada das flores<br />há um tempo que não esquece o seu espaço, não esquece <br />que há pedras ardentes dentro das tardes cinzentas de outono,<br />não esquece por exemplo que o mar gorgoleja o fel<br />e expulsa os diabos do seu corpo azul. Não esquece <br />que há um tempo em que todas as facas cortam as pontas <br />para alcançar o dia dentro do teu corpo. Não me façam acreditar<br />nos rasgos dos campos onde crescem luas de prata, não me digam <br />que lá fermenta a juventude dos dias, a eternidade de um sorriso. <br />Não me digam, ainda, por exemplo, que o chão se abriu para que nele <br />entrem primaveras e assim cresçam raizes minúsculas de sois nos campos<br />dourados do oeste.Mentiras. há raizes minúsculas de sois a nascer, <br />mas no homemque carrega a sua cruz contra o leito dos rios. <br />No homem de lingua acesa contra a água de palavras obtusas. <br />Chegará um dia em que o homem se levantará contra o tempo <br />e vencerá , perecendo com o mundo lavrado nas suas pupilas.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710427120726492006-07-12T14:20:00.000+01:002006-07-12T14:20:27.120+01:00poema do adeusjá estou de partida <br /><br />aborrece-me este regresso ao passado <br />este barulho das acácias nas mãos, <br />este não sei o quê a silêncios interiores, <br />com cheiro a flores de incêndio, <br />irrompendo do solo fértil da alma. <br /><br />Dentro de casa já não há mais histórias para contar, <br />toda a tristeza do mundo numa pétala aberta pelo sangue, <br />pela dor de um peito aberto sobre a mesa, <br />pelo esquecimento. Esqueci-me. <br /><br />já estou de partida.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710334176022872006-07-12T14:18:00.001+01:002006-07-12T14:18:54.176+01:00auto-retratonão sei se as janelas se abrem para as ruas cinzentas<br />ou se as folhas que por elas deambulam anunciam o outono<br />não sei.<br />o verão está a chegar e nos olhos a certeza mais que certa<br />de um novo rumo<br />todos os dias um novo rumo.<br />mais que ditados escritos nas mãos,<br />ou a mórbida cantilena dos corvos<br />que choram dentro dos ouvidos<br />a sua pedra de mármore ao sol.<br /><br />para mim tudo é claro<br />como a vontade, que é branca e táctilmente rugosa<br />aos meus dedos-não, não escaparás-<br />para mim, tudo é livre <br />e todas as pessoas tem cabeça de lírio branco<br />e a cidade é um jarro no regaço de Deus.<br />eu sei. sou um tolo.um feliz tolo.<br />o meu nome é tolo,<br />mas que não acredita que aquilo que nasce são<br />morra putrefacto.<br />e por isso respiro a leve tangência do ser.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710300582000502006-07-12T14:18:00.000+01:002006-07-12T14:18:20.583+01:00o sonhoeu sonhei com a luz que me enxugava os olhos<br />sonhei com as praias abertas da minha face<br />onde o sol aquecia as tardes caídas de joelhos<br /><br />eu sonhei com a intermitência do gesto<br />sonhei com as ruas abertas da cidade, lavradas <br />como queijos, roidos pela lucidez das manhãs.<br /><br />eu sonhei que as avenidas dessa cidade<br />eram vias rápidas de luz transbordante<br />pelas faces dos transeuntes <br /><br />eu sonhei que a água límpida avançava sobre o corpo<br />sonhei que o espirito era um vale estreito<br />por onde as aves passam em dirrecção ao céu<br /><br />eu sonhei, eu sonhei, eu sonhei, eu sei lá...elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710215634746912006-07-12T14:16:00.001+01:002006-07-12T14:16:55.636+01:00titlessesta necessidade de estender <br />os dedos na luz é premente como<br />a vontade de fazer crescer as <br />manhãs como árvores ou pedestais <br />vivos sobre as cabeceiras.<br /><br />e pergunto-me: porque escrevo?<br />senão para me envolver, nem que seja <br />por hiatos de tempo intermitentes num <br />halo de luz importado de Paris. <br /><br />sim, porque escrevo? se no fim<br />quase tudo sobra de mim, como aquelas <br />palavras-quadros coladas numa qualquer <br />parede-cinza, face a face com a vereda<br />mais movimentada da memória.<br /><br />e se não fosse as manhãs nas cabeceiras<br />o que haveria de mim para contar<br />senão uma estória monocórdica,<br />encontrada algures entre a neblina <br />da noite levantada, hirsuta.<br /><br />como diria o velho deitado nas folhas do outono<br />-são coisas, coisas.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710184259304132006-07-12T14:16:00.000+01:002006-07-12T14:16:24.260+01:00os pássarosI<br />os pássaros são palavras vivas <br />nos ramos da língua<br />a língua escreve os pássaros nas mãos<br />e as mãos (qual matéria virgem pendurada no vento)<br />ganham asas, arrastam consigo<br />os pensamentos embrulhados no espírito<br />levam tudo em seu regaço<br /><br />II<br />os passáros sacodem o orvalho <br />das manhãs descalças,<br />peregrinas de Deus,<br />fazem-nas brilhar como se mil mulheres <br />lhes parissem no ventre<br />cuidam para que os pássaros voem nas<br />cabeceiras dos homens<br />e nidifiquem nos seus ouvidos<br /><br />III<br />os pássaros são palavras vivas<br />por vezes caídas-mortas furtivamente<br />no chão florestal de uma memória antiga<br />mas os pássaros<br />nascem nos ramos da língua<br />e a língua ainda que só <br />nunca cai de joelhos rendida.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710149857056002006-07-12T14:15:00.000+01:002006-07-12T14:15:49.856+01:00ontemaquela loucura dum grito de incêndio,<br />perfez-me o corpo ajoelhado sobre o espírito<br />e houve um pensamento a cheirar o soalho da morte<br />a chocar contra a memória das tardes ajoelhadas d’outono.<br /><br />sei que ainda antes me vinha os ossos como <br />estrutura piramidal constituinte da memória <br />hoje é só um fotograma lí-qui-do bebido <br />como um antítodo secular contra a insensatez.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710112067595322006-07-12T14:14:00.001+01:002006-07-12T14:15:12.066+01:00escrita automáticaé possível lançar às tardes o leite das urtigas<br />é possível.<br />tal como é possível reinventar o mundo a partir<br />de uma pedra sentada ou de um horóscopo louco<br />sem penas ou céu para voar.<br /><br />dizia eu, que as loucuras de um tecto de céu, são<br />para recordar na memória, são também, <br />para lançar uma sebe de uma mente sábia<br />no orvalho da manhã, mesmo quando tudo morre à tua volta, ou mesmo quando tudo é a eterna ferocidade de um grito sem rasto.<br /><br />mas que me resta senão um grito,<br />para esvaziar a essência de uma sombra feroz<br />aparelhada com os seus dentes seculares?<br />que me resta senão um grito para preencher o vazio?<br />mesmo sabendo que tudo o que aqui está gritado<br />é produto de um automatismo automático.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710070768774442006-07-12T14:14:00.000+01:002006-07-12T14:14:30.770+01:00as mulheresas mulheres são o espírito das manhãs<br /><br />com as suas fieis mãos de porcelana alva<br />elevam os homens até ao centésimo andar do sonho<br />ali naquele lugar onde as nuvens <br />são secretas vizinhas de Deus<br /><br />e as mulheres escrevem as flores nas mãos dos homens<br />centelham-lhes os olhos com o interior dos dias<br />que delas fazem parte<br /><br />as mulheres são pedras raras, antigas<br />guardiãs do sol que dentro delas habita.<br /><br />as mulheres <br />são<br />a vigia das reclusas noites sentadaselsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152710030656466852006-07-12T14:13:00.000+01:002006-07-12T14:13:50.656+01:00sonhador ou poetapreferia que a minha casa fosse um avião azul<br />estacionada sobre o parapeito do sonho <br />e lá viveria eu<br />(como vivo agora)<br />com a sensação não muito distante da (feliz) realidade:<br />estou vivo, porque acredito.<br /><br />e acredito que posso mudar o mundo<br />mais facilmente do que o mundo me pode mudar a mim.<br />acredito na generosidade de um gesto simples, mas eficaz.<br /><br />não acredito na inércia que prende os corpos à rugosidade<br />das certeza mórbidas, às noites de boca aberta,<br />lambendo os beiços.<br /><br />-levanta-te e anda<br />mesmo que naquele dia(hoje) a saliva da vida<br />te tenha mastigado tão facilmente como um prego.<br /><br />-caís-te? torna-te a levantar<br />mesmo que o chão tenha vozes psicadélicas<br />e mãos que brotam da terra como raízes <br />rugosas que se põem sobre os teus ombros<br /><br />acredito que talvez ninguém acredite<br />mas eu acredito<br />até que a alma se vá, para longe,<br />bem longe,ao som de uma mel-odia calma.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152709949333227662006-07-12T14:11:00.000+01:002006-07-12T14:12:29.333+01:00<span style="font-family:courier new;">o autor morre no instante da criação<br />e há no verso uma inspiração divina<br />uma curva assimptótica e ascendente de amor<br />como quem penetra na luz silenciosa<br />depois duma autópsia escrita<br />pelo próprio punho do suícida.<br /><br />depois .<br />depois.<br />o autor ressuscita na voz da ave que grita<br />a nova vida que nele tem.<br /></span>elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31018724.post-1152709865429003992006-07-12T14:10:00.001+01:002006-07-12T14:11:05.430+01:00sobre as palavrasas manhãs cobriram-se de dedos<br />são encharcadas pelo estranho ruído<br />de uma letra que nasce nas suas pontas<br />assim como estando de frente para frente<br />com um papel alucinogénico-digital<br /><br />o escritor transcreve a exacta curva do seu espírito<br />e com a cabeça sentada sobre este, mergulha <br />cada vez mais profundamente na palavra e na sua essência de magnólia.<br />o escritor degladeia-se com a palavra. luta com esta tão intensamente<br />que de frente para o espelho, vê uma faca a talhar o sangue e a carne,<br />escolhendo e arrancando as palavras soterradas no corpo<br />pois o escritor já não tem pele<br />não precisa de pele,<br />o escritor veste-se de palavras, como um vício<br />ou uma extensão do corpo, ou da alma.<br />irrita-se por não encontrar a palavra certa<br />e num gesto brusco <br />atira as outras para o chão.<br />-malditas, eu hei-de vencer.<br />e o escritor vai caindo e levantando-se <br />vencendo e perdendo<br />até alcançar o <br /><br />Fim.elsefirehttp://www.blogger.com/profile/12690842572050884595noreply@blogger.com0